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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Filme-Resenha: Não Me Abandone Jamais (2010)




Não me Abandone Jamais (Never Let Me Go, 2010) é a adaptação cinematográfica do livro de Kazuo Ishiguro, nascido em Nagasaki, Japão, em 1954, mas naturalizado inglês em 1982, já que mora na Inglaterra desde os seis anos.

Narra a história de três jovens, Kathy, Tommy e Ruth, desde que eram crianças, estudando em um colégio interno na Inglaterra. Em um certo ponto da história, ficamos sabendo que os estudantes de tal internato, estão destinadas a crescerem e doarem seus órgãos, até finalmente, morrerem, ou como os personagens falam, “completarem”.

A história é no mínimo, diferente. Não em relação a premissa em si, já que algo parecido com isso já foi levado ao cinema alguns anos atrás em A Ilha (The Island, 2005) de Michael Bay. A diferença, está na forma como a história é conduzida, muito mais delicada e dramática, sem a ação que estamos acostumados no cinema de Bay. Quando crianças, Kathy, uma das mais inteligentes alunas, era apaixonada por Tommy, uma espécie de garoto problema, que sofria com o bullying dos colegas. Tommy corresponde ao amor de Kathy, mas devido a falta de iniciativa de ambos, acaba começando a se relacionar com Ruth, que não deixa claro os motivos que a levaram a gostar do garoto que ela mesma provocava. A partir de então, os anos começam a passar, Tommy e Kathy continuam apaixonados, embora ele ainda esteja com Ruth.

O filme tem um clima que lembra O Jardim Secreto (The Secret Garden, 1993) e A Princesinha (A Little Princess, 1995), pelo menos no início, e vale ressaltar que não se trata de um filme futurista. Na verdade a história se passa em um século XX alternativo, onde esses transplantes de órgãos elevam consideravelmente a expectativa de vida das pessoas. O autor explora a partir desses pontos, a crueldade humana. Em certo ponto alguém pergunta se as pessoas parariam com esses procedimentos se o preço fosse voltar a viver num mundo cheio de doenças, e essa mesma pessoa responde: Não. Além disso, a obra tem claro cunho romântico. Este sempre é o mote principal da história, o amor sendo os motivos para as ações dos personagens, juntamente com a solidão e o sentimento de que na verdade não fazem parte do mesmo mundo que as outras pessoas.

Em certo ponto da história surge um boato de que as pessoas que se apaixonam, e são capazes de provar que encontraram um amor verdadeiro, poderiam conseguir um adiamento no tempo de doação, para passar uns anos a mais na companhia de seu amante. E é estranho perceber, que mesmo aqueles que não conseguem tal adiamento, apenas seguem com o planejado. A criação que recebem as impede de tentarem fugir ou se esconder, eles apenas obedecem. São algumas atitudes que podem nos parecer incompreensíveis, mas que fazem todo o sentido dentro da história.

Todo o drama retratado não teria nenhum impacto sem a excelente direção de Mark Romanek, diretor principalmente de videoclipes, e as atuações de um elenco de primeira, tanto na fase infantil, quanto na fase adulta dos personagens. Das crianças, dou todo o destaque para Izzy Meikle-Small, que interpreta Kathy de forma adorável e sensível. Já nos atores que interpretam os personagens adolescentes e adultos, a coisa é mais parelha. Keira Knightley nos faz ter ódio de Ruth num momento, simpatia em outros, e até mesmo pena. A atriz Carey Mulligan, como Kathy, é doce, tem um ar triste e trabalha a personagem de forma tão sensível quanto a sua versão mirim (aliás, é impressionante a semelhança entre as duas atrizes). Já Tommy, ficou com o ator Andrew Garfield, conhecido pelo recente papel em A Rede Social (The Social Network, 2010) e por ser o futuro Homen-Aranha, e cabe a ele uma das cenas mais impactantes do filme, já próxima do final.

Tecnicamente, o filme é irretocável, com sua lindíssima fotografia e trilha sonora. A retratação da época também é ótima. Talvez o único defeito que eu tenha notado, seja falta de ritmo em certas partes. Mas de qualquer forma, o filme não é muito longo, e esse acaba se tornando um problema pequeno.

Mesmo sendo muito bem feito e bem atuado, a maior parte da beleza deste filme vem de seus questionamentos.

“O que eu não sei ao certo, é se as nossas vidas são tão diferentes das vidas das pessoas que nós salvamos. Todos completamos (morremos). Talvez nenhum de nós realmente entenda as coisas pelas quais passa; ou sinta que teve tempo suficiente.”

Lindo e muito bem realizado. Recomendo.

Nota: 9,0

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