Olá pessoal que acompanha o blog! Faz tempo que eu não posto nada aqui, mas o clima de volta de férias recém está passando na minha cabeça. O trabalho me impediu de ser mais assíduo nos últimos meses e depois fiz uma viagem. Mas prometo postar mais daqui pra frente, afinal, tem muitos assunto dos quais eu gostaria de falar. Li muito nos meses de verão, mesmo que não tenha sido tanto quanto eu gostaria, e também assisti muitos filmes e séries. Só não vi muitos animes, mas a quantidade de mangás que li vai acabar suprindo essa falta.
Pra começar, por que não falar de uma das maiores obras literárias do século passado e de todos os tempos? Você pode amar o filme de Stanley Kubrick, mas sua visão de Laranja Mecânica não estará completa até você por as mãos (e os olhos... e o cérebro) na obra original de Anthony Burgess. Acredite.
As diferenças são muitas, e embora não pareçam tão significativas a primeira vista, elas afetam muito o clima da trama, e como nos identificamos com o jovem Alex. No livro, Alex usa e abusa da linguagem Nadsat (adolescente), enquanto no filme o incrível modo de falar criado por Burgess fica bem diminuído. Isso, como já é dito no prefácio do livro, já causa um estranhamento por si só maravilhoso. No início você não entende nada do que Alex fala, mas com o tempo, devido a grande inteligência com que o autor planejou a obra, as palavras estranhas acabam ficando comuns, e você se pega até falando-as no dia a dia. Essa diferença gritante entre o livro e o filme é importante, por que a narração de Alex acaba ficando muito engraçada, gerando um ritmo de leitura mágico.
Pra quem não sabe, o livro trata principalmente do tema violência, ou ultraviolência, o termo usado no livro. O adolescente violento Alex faz parte de uma gangue, em um tempo bizarro, onde a violência urbana alcança níveis altíssimos, o álcool não pode mais ser comercializado, mas isso não impede os jovens de se chaparem com o bom e velho moloko (leite) em algum mesto (lugar, estabelecimento) chamado de leite-com, ou seja, leite-com-tudo-e-mais-alguma-coisa. Em uma de suas farras de Alex e seus druguis (amigos)regadas a estupros coletivos (o bom e velho vinte-contra-um), espancamentos e assaltos, Alex acaba sendo preso, e depois de um certo tempo na Prestata (Prisão Estatal) é submetido a um tratamento desumano, que supostamente o transformaria em um cidadão modelo, e garantiria que ele nunca mais voltaria a ser preso.
A partir dessa premissa, Burgess aborda temas de importância universal, como a índole humana, a politicagem e a opressão da sociedade. Alex é tudo o que não presta, mas ao mesmo tempo é puro. Sua afeição pela violência chega a ser poética, e a forma até mesmo infantil com que lida com as situações, acaba deixando-o extremamente carismático. A mensagem no fim do livro (um capítulo inteiro que não existe no filme nem na primeira versão do livro a ser lançada nos EUA) é bela, apesar de desconstruir um pouco tudo que foi feito até aí pelo autor, provavelmente de forma proposital. Também é notável a acidez com que Burgess trata os assuntos, criando cenas que provavelmente já causaram muitas polêmicas. No lançamento do filme a polêmica foi ainda maior acredito, já que o filme além de tudo tem uma carga de perversão sexual que não está presente no livro.
A opção de narrar tudo em primeira pessoa é muito acertada, nos dando um conhecimento profundo de todos os pensamentos de Alex. Apenas uma parte do livro, que é quando o doutor explica como funciona o tratamento, fez eu me perguntar se aquilo poderia mesmo funcionar se com Alex por dentro de como está sendo tratado.
No livro, também fica bem mais fácil de compreender como as coisas funcionam na história. No filme, a atenção extrema era pré-requisito para o total entendimento da trama.
Não gosto de falar demais sobre as tramas das coisas que leio/assisto/jogo em resenhas, para não causar spoillers. Por isso vou concluir dizendo para lerem este livro. Seja você fã do filme ou não. Se for, saiba que o livro é superior em vários aspectos e no geral. Se não for, não sabe o que está perdendo. Não desanime por causa do vocabulário estranho de Alex, a espetacular nova edição lançada pela editora Aleph vem com um glossário muito útil (embora eu recomende fortemente que deixe seu uso para ocasiões extremas). Peguei este livro emprestado de um drugui, mas mesmo já tendo lido, vou adquirir o meu em breve, pois a obra alcançou fácil um posto entre meus livros favoritos.
Laranja Mecânica - Anthony Burgess
Editora: Aleph
NOTA: 10,0
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