Bom, ninguém pode dizer que eu não tentei. Mesmo depois de um volume vergonhoso, persisti em comprar o próximo pra ver se a coisa melhorava. Bom, melhora... por um lado... eu acho... quero dizer...
É esse tipo de confusão que este mangá causa, e acho que é por isso que é tão bem recebido, mesmo sendo tão mal escrito. Os volumes tem uma fluidez incrível. Você lê o mangá de cabo a rabo em alguns minutos sem enrolação, e eu digo, isso é muito estranho em um mangá tão mal escrito! A falta de tato do autor é a coisa mais memorável sobre DW. Ele enfia seqüências de ação violentas no meio de perversões dignas de mangás ecchi de quinta categoria. Ok, a maioria desses mangás já é de quinta categoria, mas DW consegue tornar-se pior.
Um ecchi pelo menos é engraçado às vezes. DW não. As tentativas de piada são uma piada, com o perdão do trocadilho e as cenas onde o autor consegue enfiar calcinhas e peitos são de uma falta de propósito dignas dos piores hentais. Lembram da personagem (Minatsuki) que eu comentei que aparecia no volume anterior que soltava essa pérola: “Err Desculpe... Muito prazer... Err... Desculpe.”? Pois é, acontece que nesse volume ela se revela uma (spoiller, mas que se dane) ninfomaníaca siririqueira de marca maior, falando todos os palavrões que você pode imaginar totalmente a esmo. Ok, nada errado com palavrões, mas a personalidade dela é tão forçada quando ela é uma doce e meiga menininha quanto quando ela é uma tarada violenta. Neste volume ela larga essa: “Puta que o pariu viu?! E agora? Como é que eu vou gozar, sem aquela sua cara de desespero que só eu sabia provocar?!”.
Mais um sinal de escrita pobre e exagerada, baseada em todos os clichês e arquétipos de personagens possíveis. Dos heróis, a única personagem intrigante e particularmente legal é a Shiro (que aliás, protagoniza a grande reviravolta da história, e até aqui, o único momento inesperado e realmente interessante). Yo até se salva, mas Ganta é insuportável. Ele é ingênuo demais, chorão demais, burro demais. Se uma pessoa tenta matar ele depois de enganá-lo, um pouco depois ele ta ajudando essa pessoa. Se um personagem vem o usando e ele descobre, não liga, ainda acha bom, por que “pelo menos ele está sendo de alguma utilidade”. Faça-me o favor né? Aquele dedo que ele mostra ali pelo meio do mangá não convence ninguém. Agora entendo por que reclamavam dele no lançamento do mangá.
Os vilões não ficam atrás. Todos são clichês e sem personalidade. Alguns que eram pra ser legais se perdem em meio a tentativas frustradas de serem uma espécie de alívio cômico da história. As motivações da maioria dos personagens é vazia ou sem sentido. Yo persiste em querer salvar a irmã mesmo sabendo que ela matou seu pai e é uma manipuladora desprezível. Além disso, neste volume ele descobre que seu plano não vai dar certo como ele planejou. Mas a forma como isso acontece é ridícula. É como se Michael Scofield pensasse que seria possível fugir da prisão dizendo pro guarda: “Eu estou aqui por engano, pode me deixar sair e levar meu irmão condenado a morte que seu chefe nem vai esquentar!”. Furos, furos e mais furos. Dá a impressão que o roteirista foi inventando aquelas reviravoltas sem nenhum planejamento. Pensando bem, talvez tenha sido isso que aconteceu...
Mas sabe o que é pior em tudo isso? É difícil dropar esse mangá, e acho que o maior motivo pra isso sejam os desenhos. A arte de Kazuma Kondou é incrível, e nesse volume se destaca ainda mais, com uma grande quantidade de páginas duplas e ótima diagramação. Não lembro de outro mangá shonen tão bonito. Tá certo que é uma mangá de capítulos mensais e não semanais como Naruto e One Piece, mas mesmo em comparação com outros mensais é lindo demais. Outro fator que dificulta o processo de dropamento é a Shiro, a única personagem com a qual você realmente se preocupa e quer ver o destino.
A qualidade física do mangá está bem melhor do que a do segundo volume, tendo papel mais branquinho e menos transparência. Os extras do final são sem graça como sempre.
Bom, mesmo com todas as inúmeras falhas, fica difícil dizer se o mangá piorou ou melhorou em relação ao segundo. E não sei bem qual é o motivo. Acho que é por que as os momentos de vergonha alheia estão mais espaçados dentro do volume. Mas em compensação , quando aparecem são absurdos além do limite do tolerável. Há sim, alguns bons momentos em Deadman Wonderland. Momentos que se fossem melhor explorados renderiam uma ótima experiência, mas acho que desta vez não compro o próximo volume mesmo. É uma pena que uma premissa com tanto potencial seja estragada dessa forma por um roteirista tão fraco. Pelo que eu escuto falar a adaptação para mangá do anime Eureka Seven pelos mesmo autores deste DW é igualmente ruim. Algo me diz que a culpa não é do desenhista, pois esse desempenha um papel muito bom em DW. É uma pena... Shiro merecia um mangá melhor.
Deadman Wonderland #3 Jinsei Kataoka e Kazuma Kondou
Editora: Panini
Páginas: 210
Periodicidade: Bimestral
Nota: 4,0
• A nota não quer dizer que esse volume é pior que o segundo, mas reflete como a minha paciência está se esgotando.
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