Nunca havia lido nada de David Mazzucchelli. Vi alguns de
seus desenhos em Batman Ano Um, mas foi só. Então o seu nome na capa do álbum
Asterios Polyp não me dizia nada. Porém, pesquisando sobre a obra, fiquei
sabendo que ele passara praticamente dez anos trabalhando nela. Fãs de
quadrinhos e a mídia especializada estava elevando a Graphic Novel ao patamar
de obra-prima, e além disso, Mazzucchelli não parava de levar prêmios pra casa.
Depois de um tempo, tomei vergonha e comprei a HQ.
É difícil falar
dessa obra. Pelo menos pra mim, que acabei de ler pela primeira vez agora
mesmo, e muitos dos significados ainda estão ocultos. É uma obra complexa e
cheias de significados, implícitos na arte maravilhosa. Nem tudo está no texto,
e essa é a definição de uma graphic novel. Sem redundâncias, sentimentos e
nuances estão nas expressões e nos gestos de cada personagem. Isto sem
mencionar as fabulosas metáforas visuais.
Asterios Polyp é um “arquiteto
de papel”, o que significa que seus projetos ficam apenas no papel, e nunca
chegaram a ser construídos. A história começa quando durante uma tempestade, no
dia do seu aniversário de cinqüenta anos, sua casa pega fogo. Então com o
dinheiro que ele tem no bolso ele embarca em um ônibus e em uma jornada de
lembranças e descobertas.
Quando você pensa em
uma sinopse de Asterios Polyp, e alguém pergunta “Sobre o que é?”, muitas
respostas vem a mente. Pode-se dizer que é sobre memórias, sobre passado, sobre
filosofia, sobre teorias, sobre o cotidiano e muitas outras coisas, e nada
disso está errado. Se você notar como cada passagem da história está
interligado com o resto, vai perceber que a história também pode ser sobre o
universo. Sobre como tudo nele está interligado.
David Mazzucchelli
usa todos os recursos das histórias em quadrinhos e passa disso. Cria novas
formas, planeja cada detalhe. A arte não é realista, longe disso. Ela presa bem
mais as funcionalidades narrativas do que os detalhes exagerados. Note como
cada personagem tem um balão e uma fonte diferente (inclusive, de acordo com
suas personalidades), assim, mesmo quando eles estão fora do quadro, sabemos
quem fala. O mais próximo disso que eu vi anteriormente foi em Sandman. No fim
do livro, note como os balões de Asterios e de outro personagem vão se
entrelaçando até que eles falam em uníssono. Se isso fosse esparso na HQ, eu
não daria tanta ênfase, mas quase a cada página, temos uma idéia brilhante na
forma de contar a história. Além disso, temos as cores, que ajudam a construir
as metáforas e também a identificarmos sonhos, lembranças e cenas do presente.
Há todo momento
somos bombardeados com as mais diferentes idéias e personalidades. Desde
correntes religiosas até pensamentos filosóficos e até teorias aparentemente sem
fundamento, mas que evocam um significado profundo e que faz refletir. Todos os
nomes dos personagens contém significados que em algum momento, são usados.
Pense bem: Hana, Asterios, Ursula... Além de que os nomes refletem suas
personalidades geralmente.
Como eu disse antes,
tudo, absolutamente tudo, cada detalhe foi pensado por Mazzucchelli. Desde o
próprio design editorial do livro. E nisso, tenho que elogiar a Companhia das
Letras pelo acabamento incrível. Não temos a capa dura da edição americana, mas
o papel interno e a qualidade da impressão estão em outro patamar, até mesmo se
comparado com outras publicações da editora. E mesmo sendo capa mole, não
precisa ter medo de manusear, por que o livro não entorta todo como Scott
Pilgrim, por exemplo.
Bom, pra finalizar,
digo que lerei novamente em breve. Vou tentar capturar mais detalhes da
narrativa, reinterpretar os personagens... Por que Asterios Polyp permite isso.
Além disso, acho que sempre vou me encantar com o final. Mesmo que já saiba
como vai acontecer, é difícil pensar que aquilo um dia vá deixar de ter
impacto.
“Mas tendo a veracidade como norte, percebi
que o orgulho tinha me levado a desafiar os próprios deuses. Eu era bom, mas
não era um Frank Lloyd Wright. E abrir mão da única coisa que eu julgava me
definir se provou bem menos difícil do que podia ter imaginado.”
ASTERIOS POLYP - David Mazzucchelli
Editora: Quadrinhos na Cia.
Número de Páginas: 344
Nota: 10,0
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